Desvendando “Blackstar”, último disco de David Bowie

“Há uma quantidade de estrelas negras no álbum…não apenas a estrela, de cinco, pontas, na frente. Elas simbolizam diferentes coisas na vida. Por exemplo, há a “roseta”, que parece um pouco com uma etiqueta de preço. Ou seja, ainda é um produto comercial; você ainda pode comprá-lo. Há a “estrela-guia”, a ideia de uma pessoa que você segue na vida ou algo espiritual que a música te dá. Portanto, há uma série de outras coisas disponíveis, não apenas na superfície, mas espero que as pessoas as vejam. E, também, não necessariamente de forma imediata.” Jonathan Barnbrook

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A morte de David Bowie, em 10 de janeiro de 2016, pegou todo o mundo de surpresa. Havia uma aura de eternidade ao redor do camaleão, talvez por sabermos que ele era formado por múltiplas personalidades significativas, desde o glam Ziggy Stardust ou a faceta mais introspectiva que viveu em Berlim, houve o sóbrio Thomas Jerome Newton – alienígena que veio a terra em busca de água – e thin white duck dos anos 80, sem contar o Bowie industrial, confortável na América, dos anos 90. Quando ouvíamos que poderíamos ser heróis, nem que fosse por apenas um dia, imaginávamos Bowie eternamente sumindo e aparecendo, sempre com uma nova faceta e novas ideias. Em 2013, quando voltou com The Next Day, vimos ele se desconstruir e dizer que estava, literalmente, pronto para a próxima jornada. Desde o fim de 2015 já se ouvia murmurinhos sobre a sequência desse retorno e no oitavo dia de 2016, o sombrio Blackstar já era comentado em todos os cantos do mundo.

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Blackstar já se apresentava clássico, o design de Jonathan Barnbrook era enigmático por si só, disco e embalagem toda preta, com uma estrela recortada na capa. Um álbum que flertava com o jazz e com letras poderosas e reflexivas já tinha todas as qualidades para ser histórico mas, infelizmente, se tornou mitológico por algo que ninguém esperava: a morte de David Bowie, dois dias depois do lançamento. Como toda a obra do artista nas últimas quatro décadas, tudo parece ter sido minuciosamente pensado, como se tivesse deixado uma mensagem de adeus exatamente na sua melhor forma, nos fazendo prestar atenção cuidadosamente na sua arte.

Com o passar dos últimos doze meses muitas descobertas foram feitas no entorno da versão impressa, em vinil, do disco Blackstar, mas, como bem diz o próprio designer, muitas ainda podem surgir, Bowie era incansável. Para celebrar essa obra-prima de despedida do camaleão vamos enumerar os segredos – compilados pela revista Spin – que os fãs descobriram ao longo do último ano. Se surgirem novas descobertas, com certeza vamos adicionar aqui. Hora de desempacotar o disco!

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LUZ REFLETIDA

Quando o vinil é exposto à luz, os lados refletem uma estrela, ou pelo menos é o que parece na imagem. Alguns fãs interpretaram como uma espaçonave ou mesmo um pássaro. Há uma boa possibilidade que seja apenas uma estrela. De qualquer forma, uma ótima ideia.

Crédito: Robert Matthews
Crédito: Robert Matthews

LUZ NEGRA

Toda a embalagem de Blackstar é preta e fosca, com alguns detalhes em verniz e um recorte, em formato de estrela, que expõe o vinil. Um fã descobriu que, quando exposta à uma luz negra, a estrela e os símbolos em verniz brilham, os deixando em evidência e lembrando aquelas estrelas fosforescentes que eram comuns serem coladas nos tetos de quartos.

TERMINAL

Essa é uma das descobertas mais específicas. Um fã descobriu que o tempo das faixas, na parte de trás da embalagem, foi escrita com uma fonte chamada terminal. Essa fonte é encontrada numa plataforma de design open source chamada…Lazarus! O nome da primeira faixa de divulgação do disco, com um clipe bem enigmático. O fã chega a questionar se Bowie estaria nos mandando uma mensagem. Será?

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BOWIE REFLETIDO

Esse achado pode ser mais uma feliz coincidência do que algo mais proposital. A embalagem de Blackstar é gatefold, ou seja, é uma capa dupla. De um lado da capa é possível ver estrelas – igual aquelas noites bonitas estreladas – e do outro lado, David Bowie em uma janela. Como qualquer superfície brilhante, ela reflete. Se você deixar a capa estrelada em determinado ângulo, com a da imagem do cantor na frente, poderá ver Bowie refletido nas estrelas. Muito bacana imaginar o Starman em meio às estrelas, não?

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B.O.W.I.E

Há fragmentos de estrelas, como se fosse um código, na capa do disco, logo abaixo da grande estrela recortada. Prestando atenção, dá para interpretar que as estrelas juntas podem ser lidas como BOWIE. Faz sentido, a estrela completa seria um “O”, a última um “E” e assim por diante. Um fã também lembra que esse disco é o único da carreira do camaleão a não ter o rosto dele na capa. Mesmo The Next Day, é a capa de Heroescom uma faixa em cima. Em Blackstar o cantor não está em imagem, mas em código. Ou melhor, como fragmentos de estrelas que continuam a brilhar no céu.

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STARMAN

Um dos fãs mais atentos passou horas observando a constelação que está na contracapa. Depois de muito olhar ele percebeu uma espécie de ligação entre as estrelas mais brilhantes e isso formaria um desenho rústico de uma pessoa, como um boneco de palitos. Para o fã, faria todo sentido, pois como era conhecido por Starman, nada incomum ter uma formação de estrelas inteirinha para ele.

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De qualquer forma, acreditando ou não em todas essas interpretações, o disco em vinil de Blackstar, o mais vendido em 2016, é um marco histórico para a música, para os fãs é a certeza da grandeza do camaleão musical e visual que era David Bowie.

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Confissões de um viciado em música: David Bowie

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Em uma matéria da revista Vanity Fair, de 2003, David Bowie foi convidado a falar de alguns de seus álbuns favoritos. De uma coleção de aproximadamente 2,500 discos o camaleão contou que muita coisa havia se perdido e nem tudo tinha sido possível fazer cópias em CD. Decidiu elencar 25 – sem ordem de preferência ou gênero – que remontavam a lembranças afetivas ou grandes descobertas.

Na lista que você vai ler abaixo, figuram nomes clássicos como James Brown, Syd Barret e Velvet Underground – vistos de novas perspectivas – até nomes esquecidos pela crítica e meios especializados, mas pioneiros em vários sentidos. Fique numa posição confortável para ler essa lista do camaleão. Tenha uma caneta e papel em mãos e se prepare para uma viagem de descobertas musicais que comprovam que Bowie tinha um ouvido aguçado e sabia realmente usar as referências como ninguém.

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THE LAST POETS

THE LAST POETS
(1970, Douglas)

Um dos pilares do rap. Todas as habilidades narrativas dos “griot”*, estilhaçadas em ira, apresenta um dos discos mais políticos para causar na lista da Billboard. Falando em rap (O quê?), posso pegar carona nessa grande leva com a coletânea de 1974 “The Revolution will not be televised” (Flying Dutchman), que reúne o que há de melhor do formidável trabalho de Gil Scott-Heron.

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SHIPBUILDING

ROBERT WYATT
(1982, Rough Trade)

Não é um álbum e sim um EP de 12’ polegadas. Todavia, um disco. A bem recebida e implacavelmente contagiante música escrita com Elvis Costello, e a interpretação de Wyatt é definitiva. Desoladora – reduz homens fortes a garotinhas chorosas.

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THE FABULOUS LITTLE RICHARD

LITTLE RICHARD
(1959, Specialty)

Excepcionalmente moderadas, estas performances foram gravadas por Richard em suas primeiras sessões na Specialty, a maioria em 1955. Esse disco me foi vendido com desconto pela Jane Greene. Mais sobre ela depois.

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MUSIC FOR 18 MUSICIANS

STEVE REICH
(1978, ECM)

Música de gamelão [instrumento musical javanês semelhante à marimba] balinês travestida de Minimalismo. Vi isso ao vivo no centro de Nova Iorque no fim dos anos 70. Todos com camisas brancas e calças pretas. Tendo acabado uma turnê em camisas brancas e calças pretas, imediatamente reconheci o grande talento e bom gosto de Reich. A música (e os ginastas envolvidos em executar a proposta “tag-team” de revezamento) me admirou. Surpreendente

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THE VELVET UNDERGROUND & NICO

THE VELVET UNDERGROUND
(1967, Verve)

Trazido de NY por um ex-empresário meu, Ken Pitt. Pitt fez alguns trabalhos de relações públicas e isso o colocou em contato com a Factory. Warhol havia dado para ele essa versão sem capa, prensada como teste (Eu ainda a tenho, sem selo, apenas um pequeno adesivo com o nome do Warhol nele) e disse, “Você gosta de coisas estranhas – veja o que acha disso”. O que eu “achei disso” foi que isso era a melhor banda do mundo. Em Dezembro daquele ano, minha banda Buzz terminou, mas não sem o meu pedido de tocarmos “I’m waiting for the Man” como uma das músicas no bis do nosso último show. Surpreendentemente, não apenas fui o primeiro a fazer cover do Velvet antes de qualquer um no mundo, fiz isso antes do disco sair. Isso sim é a essência do Mod.

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TUPELO BLUES

JOHN LEE HOOKER
(1962, Riverside)

Em 1963, eu trabalhava como artista comercial júnior em uma agência de publicidade de Londres. Meu chefe, Ian, um modernista estilo a la Gerry Mulligan – cabelo curto e botas Chelsea – foi bastante encorajador para minha paixão pela música, algo que ele e eu compartilhávamos e costumava me mandar em tarefas na loja de discos Dobell’s Jazz, na rua Charing Cross, sabendo que eu ficaria lá a maior parte da manhã, até depois do horário de almoço. Foi lá, nos escaninhos, que achei o primeiro disco do Bob Dylan. Ian me mandou lá para achar um disco do John Lee Hooker para ele e me aconselhou a pegar uma cópia para mim, pois era maravilhoso. Dentro de semanas meu parceiro George Underwood e eu havíamos mudado o nome de nosso pequeno conjunto de R&B para Hooker Brothers e incluímos no nosso set a “Tupelo” do Hooker e a versão do Dylan de “House of the Rising Sun” . Adicionamos bateria em “House”, achamos que estavámos fazendo alguma espécie de inovação musical, e ficamos de cara quando o Animals gravou a música que teve recepção assombrosa. Lembre-se, tocamos nossa versão ao vivo apenas duas vezes, em clubes pequenos ao sul do Tâmisa, na frente de mais ou menos 40 pessoas, nenhum deles era do Animals. Não foi roubo, então!

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BLUES, RAGS AND HOLLERS

KOERNER, RAY AND GLOVER
(1963, Elektra)

Comprado na Dobell’s [famosa loja de discos, especializada em folk, blues, jazz e world music de Londres que funcionou entre os anos 1950 e 1980]. À sua maneira, “Spider” John Koerner foi uma influência para Bob Dylan, com quem costumava tocar nos cafés de Dinkytown, a parte artística nos arredores da Universidade de Minnesota. Derrubando as fracas vocalizações dos trios “folk” como o Kingston Trio e Peter, Paul e O-quê-fosse, Koerner e companhia mostraram como isso deveria ser feito. Primeira vez que ouvi um violão de 12 cordas.

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THE APOLLO THEATRE PRESENTS: IN PERSON! THE JAMES BROWN SHOW

JAMES BROWN

(1963, King)

Meu antigo colega de classe Geoff MacCormack trouxe esse para minha casa numa tarde, ofegante e animado. Ele disse “Você nunca na sua vida ouviu algo como isso”. Fui ver Jane Green naquela mesma tarde. Duas das músicas desse álbum, “Try Me” e “Lost Someone” se tornaram vagas inspirações da “Rock & Roll Suicide” do Ziggy. A performance de Brown no Apollo ainda permanece para mim como uma das mais excitantes de álbuns ao vivo de todos os tempos. A música Soul agora tinha um rei indiscutível.

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FORCES OF VICTORY

LINTON KWESI JOHNSON
(1979, Mango)

Uma contribuição anglo-caribenha para a história do rap. Esse cara escreveu algumas das mais emocionantes poesias da música popular. A dolorosamente triste “Sonny’s Lettah (Anti-Sus Poem)” vale sozinha o valor do reconhecimento. Apesar de não cantada, a palavra falada vai ao encontro da excelente banda, esse deve ser um dos discos mais importantes de reggae de todos os tempos. Eu dei o meu original recentemente para o Mos Def, em quem vejo conexões com Johnson, pensando já ter cópia disso em CD. Droga, não tenho. Então agora eu estou procurando uma cópia por toda parte.

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THE RED FLOWER OF TACHAI BLOSSOMS EVERYWHERE: MUSIC PLAYED ON NATIONAL INSTRUMENTS

VARIOUS ARTISTS
(1972, China Record Company)

Como você pode não amar música com seleções intituladas “Delivering Public-Grain to the State” ou “Galloping Across the Grasslands” (um verdadeiro batida, aquela). Independente dos títulos parecerem com sobras de um disco do Brian Eno, estas faixas são na verdade maravilhosos exemplos de música folclórica tocada com instrumentos tradicionais. Comprei cerca de 20 dez polegadas diferentes desse gênero a preços ridiculamente baixos na Chinese Woodblock Print Fair em Berlim no fim dos anos 70. A arte da capa ostenta uma barragem hidroelétrica inteligente e de aparência altamente funcional, semelhante mas presumivelmente menor que aquela que agora está inundando centenas de vilas em ambos os lados do glorioso rio Yangtze. Mesmo assim, belos tons pastéis, e elegante impressão em branco e dourado.

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BANANA MOON

DAEVID ALLEN
(1971, Caroline/Virgin)

É possível, que as vertentes do embrionário glam começaram aqui. Eu coloquei para tocar isso essa manhã e foi espantoso ouvir algo que soa como Bryan Ferry e Spider from Mars (juntos, finalmente) na primeira faixa, gravado exatos dois anos antes dos “oficiais” lançamentos glam de qualquer um dos dois protagonistas acima mencionados. Não há, entretanto, dúvidas sobre a grande influência de Allen e seu companheiro de banda Robert Wyatt nas mais “elevadas” camadas do pop com sua unidade multifacetada, o Soft Machine. Banana Moon tornou-se o passo de transição solo de Allen para depois formar o lunático Gong. Wyatt também veio a ter uma longa e respeitosa carreira solo, intermitentemente trabalhando com o ex-Roxy Brian Eno.

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JACQUES BREL IS ALIVE AND WELL AND LIVING IN PARIS

CAST ALBUM
(1968, CBS)

Na metade dos anos 60 eu estava tendo um vai-e-volta com uma maravilhosa cantora e compositora que havia sido namorada de Scott Walker. Para o meu desgosto, a música de Walker tocava dia e noite no apartamento dela. Infelizmente perdi o contato com ela, mas inesperadamente mantive um carinhoso e admirável grande amor pelo trabalho do Walker. Um dos autores que ele fez cover num dos seus primeiros álbuns foi Jacques Brel. Isso foi o suficiente para me levar ao teatro para pegar o álbum quando veio para Londres em 1968. No momento que o elenco, liderado pelo tradutor rústico e noturno do Brooklyn Mort Shuman, chegava na música que tratava dos caras que faziam fila para suas injeções contra sífilis (“Next”), eu estava completamente convencido. Por meio de Brel, descobri a canção francesa como revelação. Aqui estava uma forma de canção popular onde poemas como os de Sartre, Cocteau, Verlaine e Baudelaire eram conhecidos e adotados pela população em geral. Não hesite, por favor.

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THE ELECTROSONIKS: ELECTRONIC MUSIC

TOM DISSEVELT
(1960, Vendor Philips)

Este é um daqueles álbuns estranhos lançados pelas gravadoras para exibir aquele estéreo moderno. Apenas que, aqui a Philips optou por uma pioneira dupla de holandeses, Tom Dissevelt e Kid Baltan. Como exploradores sonoros esses dois estão no mesmo grau de Ennio Morricone, mas mais excêntricos. Eu adoraria um mix 5.1 desses absurdos. As anotações do encarte nos informam que “chimpanzés estão pintando, gorilas estão escrevendo”. Bom trabalho.

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THE 5000 SPIRITS OF THE LAYERS OF THE ONION

THE INCREDIBLE STRING BAND
(1967, Hannibal)

OK, aqui está o álbum com a capa mais viajada. As cores estão em todo lugar, um verdadeiro deslumbre para os olhos. Provavelmente executada pelo grupo artístico conhecido como “The Fool.” Basicamente trancado em uma cápsula do tempo por muitos anos – é animador descobrir que esse estranho apanhado de coisas místicas do folk do Meio Leste e Celta se mantém memoravelmente bem até hoje. Um festival de verão obrigatório nos anos 60, eu e o T. Rex Marc Bolan somos grandes fãs.

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TEN SONGS BY TUCKER ZIMMERMAN

TUCKER ZIMMERMAN
(1969, Regal Zonophone/EMI
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Aí está um título com transparência. O cara é qualificado demais para o folk, na minha opinião. Diplomas em teoria e composição, aluno do compositor Henry Onderdonk, bolsa em Fullbright, e ele quer ser Dylan. Um desperdício de um talento incendiário? Não na minha opinião. Eu sempre achei esse álbum de austeras e raivosas composições cativante, e muitas vezes me pergunto, o que será que aconteceu com ele? Tucker, um americano, foi um dos primeiros artistas produzidos pelo meu amigo e co-produtor Tony Visconti, também americano, depois de se toparem em Londres. Porque será que ele sumiu? Ah, é, ele tem um website. Mora na Bélgica. Pesquisem sobre ele.

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FOUR LAST SONGS (STRAUSS)

GUNDULA JANOWITZ
(1973, DG)

Como “aquele livro”, este é um álbum que continuamente dou para amigos e conhecidos. Embora Eleanor Steber e Lisa della Casa façam boas interpretações deste trabalho monumental, a performance de Janowitz para Four Last Songs do Strauss foi descrita, merecidamente, como transcendental. Ela dói como amor por uma vida que está apagando silenciosamente. Eu não conheço outra música, nem outra performance, que me comove tanto quanto essa.

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THE ASCENSION

GLENN BRANCA
(1981, 99Records)

Comprado em Zurich, Suiça . Essa foi uma compra impulsiva. A capa me pegou. Robert Longo produziu o que essencialmente é a melhor capa dos anos 80 (e além, alguns diriam). Misteriosa no sentido religioso, angústia da Renascença vestida de Mugler. E por dentro… Bem, o que a princípio soa como a dissonância é logo assimilado como uma peça sobre as possibilidades de sobretons de guitarras em massa. Não exatamente Minimalismo – ao contrário de La Monte Young e seu trabalho dentro do sistema harmônico, Branca usa os sobretons produzidos pelas vibrações de uma corda de guitarra. Amplificados e reproduzidos por muitas guitarras simultaneamente, você tem um efeito parecido com o drone de monges budistas do Tibet , só que muito, muito mais alto. Duas figuras-chave na banda de Branca eram o compositor David Rosenbloom (do incrível Souls of Chaos, 1984) e Lee Ranaldo, figura fundadora junto com Thurston Moore do grande Sonic Youth. Ao longo dos anos, Branca ficou ainda mais barulhento e mais complexo que isso, mas aqui na faixa-título seu manifesto já está completo.

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THE MADCAP LAUGHS

SYD BARRETT
(1970, Harvest/EMI)

Syd sempre será o Pink Floyd para alguns de nós, fãs mais velhos. Ele fez esse álbum, reza a lenda, estando frágil e precariamente fora de controle. Malcolm Jones, um de seus produtores na época, nega veementemente. Confiarei em Jones, pois ele estava lá. A faixa de destaque para mim é “Dark Globe”, gloriosamente perturbadora e mordaz de uma só vez.

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BLACK ANGELS

GEORGE CRUMB
(1972, Cri)

Comprado em Nova Iorque no meio dos anos 70. Provavelmente uma das únicas peças para concerto inspiradas pela Guerra do Vietnã. Mas também é um estudo de aniquilação espiritual. Eu ouvi esta peça pela primeira vez no período mais sombrio do meus próprios anos 70, e fiquei muito apavorado. Na época, Crumb era uma das novas vozes no mundo da composição e Black Angels uma de suas obras mais caóticas. Ainda é difícil para mim ouvir isto sem uma sensação de pressentimento. Realmente, às vezes, soa como a própria obra do diabo.

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FUNKY KINGSTON

TOOTS & THE MAYTALS
(1973, Dragon)

Se você se considera meio louco por reggae, você terá esse, obviamente. Toots Hibbert me conquistou com sua poderosa “Pressure Drop”, contribuição para a trilha sonora de Harder They Come no começo dos anos 70. Seguiu então este fantástico e verdadeiramente álbum funky em 1973. Eu estava morando em uma rua fora da bastante gentrificada Cheney Walk em Londres, e pela primeira vez comecei a receber reclamações de vizinhos em relação ao volume no qual eu ouvia meus discos, esta belezura sendo a principal culpada. Hibbert, a propósito, afirma ser “o Inventor do Reggae”. Boa, Toots.

5.0.2
5.0.2

DELUSION OF THE FURY

HARRY PARTCH
(1971, Columbia)

Comprado em Londres na HMV, Oxford Street. Eu tenho apenas uma vaga memória de quando eu ouvi falar desse cara pela primeira vez. Eu acredito que foi Tony Visconti, meu produtor de muitas vezes, que me deu a dica. Um tipo maluco e certamente uma vez sem-teto, Partch passou a inventar e fazer dúzias dos instrumentos mais extraordinários. (Quando foi a última vez que você viu alguém tocando o Bloboy, o Eucal Blossom, ou o Spoils of War? Como você afina um Spoils of War? Eu penso.) Então, entre os anos 30 e 70, ele escreveu incríveis e evocativas composições para os instrumentos, seus temas variando de mitologia a dias pegando trens durante a Depressão. Delusion representa o melhor resumo do que Partch fazia. Por vezes bastante assustador e positivamente arrasador. Tendo escolhido um caminho musical que fugia dos compositores mainstream, ele definiu a base para pessoas como Terry Riley e La Monte Young.

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OH YEAH

CHARLES MINGUS
(1961, Atlantic)

No começo dos anos 60, Medhurst’s era a maior loja de departamento em Bromley, [Bromley é um distrito, bairro de Londres] . Em termos de estilo, eles seriam pulverizados por seus competidores, que estocaram antecipadamente a nova mobília “G-Plan” de estilo escandinavo. Mas Medhurst’s tinha uma fantástica seção de discos, liderada por um maravilhoso “casal”, Jimmy e Charles. Não existia um lançamento americano que eles não tinham ou não podiam ter. Era tão descolada quanto qualquer estabelecimento londrino. Eu teria tido uma jornada musical bem seca se não fosse por esse lugar. Jane Greene, a assistente de caixa, acabou gostando de mim, e sempre que eu aparecia, que era quase todas as tardes depois do colégio, ela me deixava tocar discos na “cabine musical” à vontade até a loja fechar às 17h30. Jane quase sempre se juntava a mim, e nós dávamos uns amassos ao som de Ray Charles ou Eddi Cochran. Isso era bem excitante, pois na época eu tinha uns 13 ou 14 anos e ela era uma mulher de 17. Minha primeira mulher mais velha. Charles me deixava comprar com um enorme desconto, me permitindo construir uma coleção fabulosa ao longo dos dois ou três anos em que eu frequentei a loja. Dias felizes. Jimmy, o parceiro mais jovem, me recomendou esse disco do Mingus certo dia por volta de 1961. Eu perdi minha cópia da Medhurst, mas continuei a re-comprar as edições com o passar dos anos, já que era re-lançado de tempos em tempos. Nele há a faixa bastante singular “Wham Bam Thank You Ma’am.” Também foi a minha introdução à Roland Kirk.

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LE SACRE DU PRINTEMPS

IGOR STRAVINSKY
(1960, MFP/EMI)

Para mim, um clássico exemplo dos olhos fazendo a compra. Desculpe a piada. No final dos anos 50, a Woolworth’s produziu uma série barata de álbuns clássicos em seu selo Music for Pleasure. Eu encontrei esse nas prateleiras e fiquei tão encantado com a foto da montanha (Ayres Rock em Austrália, como descobri) que era impossível resistir. Com a ajuda das anotações no encarte, que eu achei incrivelmente iluminadoras, eu quase podia construir minha própria dança imaginada para esse fantástico pedaço de música. O tema ostinato para as quatro tubas é um riff tão poderoso quanto qualquer outro encontrado no rock. Antigamente na minha então vida curta, eu havia comprado The Planets Suite do Gustav Holst, motivado por assistir uma tremenda série sci-fi na BBC chamada The Quartermass Experiment detrás do sofá, quando meus pais achavam que eu tinha ido para cama. Após cada episódio eu voltava para meu quarto nas pontas dos dedos, rígido de medo, de tão poderosa que a ação parecia para mim. A música titular era “Mars, the Bringer of War”, então eu já sabia que música clássica não era um tédio.

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THE FUGS

THE FUGS
(1966, ESP)

As anotações no encarte foram escritas por Allen Ginsberg e contém estes perenes trechos: “Quem está no outro lado? Pessoas que pensam sermos maus. Outro lado? Não, não façamos disso uma guerra, todos nós seremos destruídos, nós sofreremos até a morte se escolhermos a Porta da Guerra.” Eu achei na Internet o texto de uma propaganda de jornal para o Fugs, que, junto com o Velvet Underground, tocou no April Fools Dance e Models Ball no Village Gate em 1966. O FBI tinha os na lista como “The Fags.” Essa com certeza foi uma das bandas underground mais liricamente explosivas. Não eram os maiores músicos do mundo, mas o quão “punk” era tudo aquilo? Tuli Kupferberg, co-compositor do Fugs e performer, em colaboração com Ed Sanders, acaba de finalizar o novo álbum do Fugs enquanto escrevo. Tuli tem 80 anos.

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THE GLORY (????) OF THE HUMAN VOICE

FLORENCE FOSTER JENKINS
(1962, RCA)

Entre a metade e o final dos anos 70, Norman Fisher, colecionador de arte e pessoas [sic], realizou as festas noturnas mais diversas de toda Nova Iorque. Pessoas de todos os setores do assim e não tanto avant-garde se aglomeravam em seu pequeno apartamento no centro, simplesmente porque Norman era um imã. Carismático, divertidíssimo, e brilhante em apresentar todas as pessoas certas para as pessoas erradas. Seu gosto musical era tão efervescente quanto ele mesmo. Duas de suas recomendações me marcaram ao longo dos anos. Uma foi Manhattan Tower, o primeiro musical de rádio por Gordon Jenkins (sem relação com Florence), e a outra The Glory (???) of the Human Voice. Madame Jenkins era tão rica, sociável, e devota à opera. Ela possuía – e era alegremente inconsciente disso – o pior par de cordas vocais no mundo da música. Ela agraciava Nova Iorque com sua voz monstruosa uma ou duas vezes por ano, com recitais particulares no Ritz-Carlton para uns poucos sortudos. Tão populares eram esses eventos que os ingressos eram vendidos a preços exorbitantes. Para atender à demanda, Madame contratou o Carnegie Hall. Foi a grande bilheteria daquele ano, 1944. Todo mundo e Noël Coward estavam lá, caindo pelos corredores, em histerias mal contidas. Ao interpretar a canção “Clavelitos”, Madame, que chegava a mudar de roupa três vezes durante um recital, ficou tão compenetrada pontuando as cadências da música, atirando pequenas flores vermelhas de uma cesta, que a própria cesta, entusiasmada, seguiu as flores em direção ao colo de um fã maravilhado. Tenha medo, tenha muito medo.

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10 Discos favoritos de Tarantino

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Quentin Tarantino é conhecido pelo seu cinema visceral e apaixonado e boa parte da sua filmografia dialoga com outros filmes que o próprio diretor é fã. Além de um grande cineasta, Tarantino também é um colecionador de discos. Se você já viu alguns filmes do cara vai perceber que as trilhas sonoras são muito importantes na constução do enredo como é o caso dos dois volumes de Kill Bill, do Pulp Fiction e Django Livre, todas ótimas trilhas sonoras. Como ele próprio diz logo abaixo, quando ele está pensando em um filme ele procura músicas que reflitam a personalidade do filme e isso é possível graças ao vasto conhecimento musical e a coleção própria do diretor.

O jornalista Michael Bonner (Uncut) pediu a Quentin Tarantino falar sobre seus 10 discos favoritos e o resultado traduzido você lê logo abaixo, é muito interessante perceber a relação emotiva que o diretor tem com a música e a imagem, dá para sentir que Tarantino é como um de nós.

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Bob Dylan

 

Blood On The Tracks

“Este é o meu disco favorito de todos. Passei o fim da minha adolescência e o começo dos meus 20 anos ouvindo música antiga – rockabilly, coisas do tipo. Então eu descobri o folk quando eu tinha 25, e isso me levou ao Dylan. Ele me impressionou com esse disco. É tipo o grande álbum da segunda fase, sabe? Ele fez a primeira leva de discos nos anos 60, daí começou a fazer os álbuns menos problemáticos – e disso veio “Blood On The Tracks”. É obra prima dele.”

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Bob Dylan

 

“Tangled Up In Blue”

“Ok, talvez eu esteja trapacendo. Eu sei que essa é do Blood on Tracks, mas essa é a minha música favorita de todas. É uma daquelas canções em que as letras são ambíguas, que na verdade você escreve a música por si próprio. É muito divertido – é como se Dylan estivesse brincando com o ouvinte, brincando com a forma que ele ou ela interpretam as letras. É bem difícil pegar músicas individuais do Blood on Tracks, porque ele funciona muito bem como um álbum inteiro. Eu costumava pensar que “If You See Her, Say Hello” era uma faixa mais poderosa que “Tangled Up in Blue” mas, ao longo dos anos meio que percebi que “Tangled…” levava vantagem, pela diversão que você pode ter com ela.

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Freda Payne

 

“Band Of Gold”

“Eu sou um grande fã de música. Amo o rock’n’roll dos anos 50, Chess, Sun, Motown. Todas as bandas de Merseybeat, grupos de garotas dos anos 60, folk. Isso era tão legal: uma combinação da forma que era produzido, o som bacana do pop/R&B, e a voz da Freda. Era um tanto cafona – sabe, tinha mesmo uma batida rápida e, nas primeiras vezes que ouvi, eu ficava tipo, totalmente ligado na animação da música. Foi apenas na terceira ou quarta ouvida que percebi que as letras eram de partir o coração.

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Elvis Presley

 

The Sun Sessions

“Esse tem sido um álbum extremamente importante para mim. Sempre fui um grande fã de rockabilly e grande fã do Elvis, e para mim esse álbum é a expressão pura do que o Elvis era. Claro, há grandes músicas individuais – mas nenhuma coletânea alcançou esse álbum. Quando eu era jovem, costumava pensar que Elvis era a voz da verdade. Não sei o que isso significa, mas a voz dele…caramba, soava pura pra caralho. Se você cresceu amando Elvis, é isso. Esqueça o período Vegas: Se você realmente gosta de Elvis, você se envergonha daquele cara em Vegas. Você sente que ele te decepcionou. O “Hillbily Cat” [fazendo referência à fase 53-55] nunca te decepciona.”

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Phil Ochs

 

“I Ain’t Marching Anymore”

“Ok, daqui em diante não haverá nenhuma ordem. É o mesmo com os filmes: Tenho meus três favoritos – Taxi Driver, Blow Up e Onde Começa o Inferno – e depois disso depende do meu humor. Esse é um dos meus álbuns favoritos de protesto/folk. Enquanto Dylan era um poeta, Ochs era um jornalista musical: Era um cronista do seu tempo, cheio de humor e compaixão. Ele escrevia músicas que poderiam parecer bem simples, e então, no último verso, ele dizia algo que, tipo, deixava você arrasado. Uma música que eu gosto muito nesse disco é “Here’s to the State of Mississipi” – Basicamente, isso é tudo o que o filme “Mississipi em Chamas” deveria ter sido.

Phil Ochs

 

“The Highwayman”

“Estou trapaceando de novo. Esse é um poema de Alfred Noakes que Ochs musicou. O vocal me fez explodir em lágrimas mais vezes do que prefiro lembrar.”

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Elmer Bernstein

 

“The Great Escape”

“Eu tinha uma grande coleção de trilhas sonoras de filmes. Não me entusiasmo mais com elas, até porque agora a maioria das trilhas são uma coletânea de músicas de rock, metade delas nem aparece no filme. Essa é um verdadeiro clássico. Ela tem um tema principal que traz o filme direto para a sua cabeça. Todas as faixas são boas – e é tão eficaz. Levei tempos para conseguir uma cópia, e, cara, eu quase chorei quando finalmente consegui.”

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Bernard Herrmann

 

“Sisters”

“Este é de um filme do Brian de Palma. É um filme assustador, e a trilha sonora…ok, se você quer se assustar, desligue as luzes, sente no meio da sala e ouça esse disco. Você não vai durar um minuto. Quando eu estou começando a pensar sobre um filme, eu vou começar procurando por músicas que reflitam a personalidade do filme, vou começar procurando músicas que possam refletir essa personalidade. O disco que mais penso sobre é aquele que toca durante os créditos de abertura, porque é ele que vai dar o tom do filme. Como em “Cães de Aluguel”, quando você vê os caras saindo da lanchonete, e a linha do baixo de “Little Green Bag” entra – você já sabe que vai ter encrencas.”

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Jerry Goldsmith

 

“Under Fire”

“The Main Theme’ é uma das maiores peças de músicas escritas para um filme. É tão assombrosa, tão bonita – cheio de flautas de pã e coisas do tipo. É destruidor, sabe – como um tema do Morricone. Por incrível que pareça, “The Main Theme” funciona muito bem, mas nunca tocaram ela nos créditos de abertura. Colocaram ela no meio e durante os créditos finais, o que é bem estranho.”

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Jack Nitzsche

 

“Revenge”

“De todas as trilhas sonoras, esta é a melhor. É de um filme do Tony Scott – ele dirigiu Amor à Queima-Roupa – e é uma composição muito exuberante, elegante. Você não precisa conhecer o filme para apreciar a trilha sonora: Ela funciona do seu próprio jeito.”

Via Uncut

Como balancear o braço da sua vitrola: Uma guia passo-a-passo

Traduzido do original “How to balance your tonearm: a step-by-step guide” do site The Vinyl Factory.

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Constantemente negligenciado, definir o peso no cabeçote e balancear o braço do toca-discos pode parecer bobo, mas é o ajuste mais importante que você pode fazer para a qualidade do som e ainda proteger tanto a agulha como os discos.

Este artigo irá guiar você pelo processo de configuração da força de trilhagem no cabeçote do toca-discos.

Antes de começar queremos recomendar duas coisas bem importantes. Primeiro: seja paciente. Preste atenção no processo. Na verdade, se concentre para ir com calma e prevenir acidentes. Segundo, se você ler as instruções seguintes e o fabricante do seu toca-discos recomendar um método que contradiz o nosso, siga as instruções do fabricante. Deve haver uma boa razão para que a gente discorde.

Alguns toca-discos requerem que o braço seja instalado no próprio aparelho, outros exigem que você anexe o cabeçote no braço. Esse é um guia para iniciantes, então vamos considerar que ambos esses passos já foram resolvidos para você, como é comum hoje em dia, pelo próprio fabricante. Como fazem as marcas Pro-Ject, Rega e outras que promovem a filosofia de “plugar e tocar” (bem, quase isso) para tornar o processo de instalação o mais fácil e indolor possível, então eles devem completar essas duas tarefas para você.

Por que configuramos o peso? Para permitir que a ponta da agulha possa deslizar fielmente pelas ranhuras, da forma correta. A configuração do peso de trilhagem varia porque os pesos do braço e do cabeçote variam. Se o peso de trilhagem na agulha é pouco, isso fará ela pular e danificar o disco (por isso que pouco peso é mais perigoso que muito). Se você configurar o peso muito acima, a agulha não irá passear pelas ranhuras de forma correta, perdendo informação enquanto a distorção sonora ficará mais evidente e, de novo, há possibilidade de causar danos no disco a longo prazo.

Se você leu as instruções padrão para a configuração do peso de trilhagem, vai encontrar uma série de recomendações sobre a configuração do peso pelo fabricante. Se você se mantiver em algum lugar desses não irá dar errado (ou seja, em uma recomendação que varia de 1.6g – 2.g, escolha 1.8g)

1: NÃO É PERMITIDO ESCORREGAR

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Procure o controle anti-skating. Isso pode ser uma roda giratória com um display numerado ou uma peça do tipo linha de pescar com um peso pendurado na extremidade que fica na barra ou algo do tipo ao redor do braço (as instruções do seu toca-discos irão te guiar para a posição correspondente na configuração). Defina o anti-skating no zero.

2: O APOIO

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O braço do seu toca-discos pode estar afixado a um apoio, no meio dele ou ao longo do seu comprimento, através de um gancho plástico, uma trava ou algo do tipo. Ele é uma espécie de descanso do braço usado normalmente como base entre as execuções dos discos. Solte a trava do apoio, desprenda-o do resto, apoie o braço para prevenir que a agulha caia no prato e diminua a suspensão no braço.

3: EQUILÍBRIO

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Mova a parte traseira do contrapeso para trás e para frente pelo comprimento do braço até que ele se suspenda do descanso e fique livremente (sem qualquer ajuda sua) solto numa posição nivelada.
Agora o braço está com um peso de trilhagem efetivo de 0g. Aperte a trava para que o contrapeso pare mas ainda possa ser movido com leves toques para ajustes específicos.

4: DISQUE ZERO

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Por conta do peso de trilhagem ser, nesta posição cuidadosamente balanceada, efetivamente 0g, você agora pode localizar o dial do peso de trilhagem que normalmente fica no canto do braço, possivelmente na parte móvel do contrapeso. Mova o dial até zero. Nem todo braço virá com um dial conveniente. Se não houver um dial, não se preocupe. Compre você mesmo um medidor de peso de trilhagem para poder confirmar o peso desejado.

5. DIGA SEU PESO

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Se o contrapeso estiver rosqueado, ajuste-o (também irá mover o dial) até alcançar o peso desejado. Se o braço não tiver um dial de contrapeso e nem for rosqueado, apoie o medidor de peso de trilhagem no prato, e a agulha sobre o medidor. Ajuste o contrapeso para trás e para frente até achar o peso desejado. A balança irá dizer quando você encontrou o peso correto.

6. PODE ESCORREGAR

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Quando terminar, coloque o braço de volta no descanso. Agora vá até o dispositivo anti-skating e ajuste-o com os mesmos parâmetros que o peso do braço. Este pequeno dispositivo evita que o braço, literalmente, fique escorregando pelas ranhuras até o final do disco. Coloca os freios no braço, por assim dizer. Pronto! Você conseguiu.

Capas de Discos Famosas: Led Zeppelin II, de 1969

Foto de divulgação do Led Zeppelin em 1969
Foto de divulgação do Led Zeppelin em 1969

Nenhuma novidade em afirmar que o Led Zeppelin é uma das bandas mais incríveis da história do rock. Com seus discos viscerais é uma banda que soube aproveitar bem o seu tempo junto e foi protagonista de performances sensacionais em palcos pelo mundo. Recentemente, com o relançamento dos discos em edições caprichadas, foi possível ver de perto o trabalho minucioso feito na hora de apresentar o álbum executado em estúdio, empacotado em uma obra de arte.

Nesse post comentamos os 40 anos do “Physical Graffiti” e toda a iconografia que o disco carrega. Todos os detalhes foram pensados pelo designer Peter Corriston e não foi a primeira vez que a banda apostou em referências inteligentes (a sacada sensacional das cenas nas janelas) e na arte da colagem. A famosa capa de “Led Zeppelin II” (1969) já dava indícios da banda ter uma queda por ideias bacanas de artistas.

Capa de Led Zeppelin II
Capa de Led Zeppelin II

David Juniper conta que nos anos 60 em Londres tudo parecia possível. Ele estava entediado com o seu trabalho de diretor de arte e se empolgava com ideias novas e experimentais. Como um fã da banda, e querendo participar mais ativamente da cena musical, ele pensou em uma arte e mostrou para os managers dos Leds, Peter Grant e Micky Most.

Aprovada pelos integrantes nascia a famosa capa do segundo disco do Led Zeppelin. A arte de “Led Zeppelin II” é baseada em uma fotografia da Primeira Guerra Mundial onde o Barão Von Richtofen (conhecido como Barão Vermelho) está ostentando a Flying Circus, ou melhor, a sua equipe de pilotos de caça, considerada uma das mais incríveis no ar. Vale lembrar que Richtofen teve sua figura associada à vários tipos de mídias e cultura pop, um exemplo disso é uma bandas mais conhecidas do Brasil: O Barão Vermelho.

O "Flying Circus" do "Barão Vermelho" Von Richtofen
O “Flying Circus” do “Barão Vermelho” Von Richtofen

Usando como base um fundo marrom e o zepelim fantasma logo acima, David Juniper brincou com a ideia de um esquadrão e que cada piloto tem a sua função. Bastou saturar um pouco a imagem, aplicar um pouco de air brush – lembremos que não existia photoshop na época – recortar e colar o rosto dos integrantes da banda – onde se posicionassem melhor – então juntou algumas figuras corriqueiras da época mais os managers e um novo “esquadrão” estava formado. Vale mencionar que em algumas edições russas do disco (assim como em outros) a colagem ainda sofre apropriação e mudanças em relação à escolha do design original.

A transformação no logo da banda para o disco.
A transformação no logo da banda para o disco.

Já a grafia do nome da banda, como toda boa fonte, antes da era do photoshop e os milhares de sites excelentes com fontes grátis, foi desenhada baseada numa outra que já existia, a Kabel Black. Aí bastou uma esticadinha nos ascendentes e descendentes de algumas letras, somando uma borda na fonte e as cores certas para o estilo da época. Vale lembrar que o ano é 1969, a era flower power, as cores eram importantes, chamativas e contrastantes. A escolha do amarelo, rosa e marrom foram fundamentais para contrastar com a colagem, sem mencionar que ornam muito bem com a psicodelia da arte interna do disco, o famoso zepelim, cravejado de ouro com os devidos holofotes.

Todos os holofotes no zepelim!
Todos os holofotes no zepelim!

A capa de “Led Zeppelin II” é um excelente prelúdio do que esquadrão Jimmy Page, Robert Plant, John Paul Jones e John Bonham foram capazes desde a introdução de “Whole lotta love” até o último suspiro “de Bring it on Home”. Eles também eram o esquadrão mais incrível no ar.

A capa icônica de “Physical Graffiti”

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No dia 24 de fevereiro de 1975 o Led Zeppelin lançava o seu sexto álbum de estúdio, “Physical Graffiti” é uma unanimidade em vários pontos. Entre fãs da banda e de rock em geral o álbum é um tour de force do Led Zeppelin por trazer o auge da expressividade da banda. Desde blues e hard rock, indo parar nas cítaras indianas, o álbum consegue passear com destreza por vários estilos. Já designers que acreditavam que Led Zeppelin III (1970) já era um marco na carreira da banda, com suas montagens e interatividade da arte do disco com quem o manuseasse, viam em “Physical Graffiti” um trabalho minucioso e artístico que dialogava perfeitamente com a música proposta no disco.

A capa de “Physical Graffiti” é a fotografia de um prédio simétrico de cinco andares, bem ao estilo de cortiços típicos de Nova York, fotografado pelo designer Peter Corriston que não apenas enquadrou a simetria da construção, como teve a ideia de recortar as janelas criando um trabalho cuidadoso de die-cut. Nas imagens por trás das janelas se vê o astronauta Neil Armstrong, Judy Garland em “O Mágico de Oz”, membros do Led Zeppelin, King Kong, Marilyn Monroe entre outras imagens bastante representativas.

Parte de trás do disco
Parte de trás do disco

A frente do disco é o prédio fotografado durante o dia, e a parte de trás durante a noite, Assim como o terceiro álbum da banda, “Physical Graffiti” permite que a capa tenha uma série de combinações com as imagens mostradas pela janela. Em qual momento da história você gostaria de dar uma espiada na janela vizinha? Há ainda um encarte interno com o design de Mike Doud, com os títulos das músicas e o nome do álbum escrito nas cortinas. Um trabalho rico e interativo, feito nos mínimos detalhes para ser prensado em vinil e garantir experiências múltiplas.

Ao longo dessas quatro décadas a localização da construção usada na capa ganhou uma série de situações divertidas, além de se tornar um ponto obrigatório para fãs da banda sentarem nas escadarias e eternizarem o momento com uma foto. Em 1981 os Rolling Stones gravaram o clipe promocional de “Waiting on a Friend”, do álbum “Tattoo You”, com o Mick Jagger esperando um amigo justamente em frente ao prédio de “Physical Graffiti”. Em 2012 Robert Plant foi fotografado (imagem abaixo) na frente do edíficio onde no térreo funciona uma casa de chás chamada de….Physical GraffiTEA, antes funcionava um brechó também chamado de Physical Graffiti.

Robert Plant em frente ao prédio em 2012
Robert Plant em frente ao prédio em 2012

Em 2010 o fotógrafo Simon Gardines – conhecido por fotos que brincam com a simetria do urbano – tirou uma foto recriando a capa de “Physical Graffiti”. Ele conta que depois de fotografar chegou em casa e começou a comparar a foto com o trabalho de Corriston que soube transformar a imagem em favor da sua arte. Por exemplo, na verdade o edíficio não tem apenas quatro andares e sim cinco. Além das adições das imagens às janelas ao estilo die-cut o artista também fez pequenas modificações no topo da fachada para conseguir inserir o nome da banda e assim tornar o edíficio comum entre as ruas 96 e 98, de St. Mark’s Place, o templo do Led Zeppelin em Nova Iorque. E como bom artista Corriston não tirou essa ideia de lugar algum, Gardines denuncia a bela influência no disco “Compartments” (1973) do violonista José Feliciano. O que você acha?

A possível inspiração para a arte do disco
A possível inspiração para a arte do disco

No mais, são 40 anos desde que o simpático prédio na St. Mark’s Place se tornou um templo para o rock, guardando atrás de suas janelas bem além de imagens icônicas dos séculos anteriores, mas sim um dos principais discos do século XX e da década de 70. Quem fica imune à introdução de Kashmir?

Dave Grohl, o embaixador da Record Store Day 2015

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A Record Store Day, desde 2007, já se tornou uma tradição para os fãs e colecionadores de vinil. Apesar do evento oficial priorizar a América do Norte e a Inglaterra, várias lojas de discos pelo mundo afora organizam suas agendas para celebrar o bolachão e principalment seus clientes. Já escrevemos aqui a história do evento e sua importância no fortalecimento da cultura do vinil. A data se destaca por eventos que acontecem simultaneamente dentro de lojas e lançamentos oficias da data, normalmente reedições, b-sides, singles e outras edições especiais.

Todo ano é escolhido um embaixador para a data, alguém que seja um apaixonado pelo vinil e também que promova ações de apoio às lojas de discos. Já foram embaixadores grandes nomes como James Hetfield, Josh Homme, Ozzy Osbourne, Iggy Pop e ano passado, Jack White. Esse ano Dave Grohl (Foo Fighters) será o embaixador da Record Store Day e abaixo você pode ler a tradução da carta – uma tradição no evento – em que ele relata como se apaixonou pelo vinil e como essa paixão é e deve ser passada de geração em geração. Vida longa ao vinil!

“Eu descobri a minha vocação nos fundos de uma escura e empoeirada loja de discos.

Um “K-Tel’s Blockbuster 20 Original Hits by the Original Stars”, de 1975, com Alice Cooper, War, Kool and the Gang, Average White Band e outros, comprado em uma pequena loja de discos na minha suburbana vizinhança em Virginia, foi o disco que mudou minha vida e me fez querer ser um músico. O segundo que ouvi “Frankenstein”, de Edgar Winter, eu estava viciado. Minha vida havia sido mudada para sempre. Este era o primeiro dia do resto da minha vida.

Crescendo em Springfield, Virginia entre os anos 70 e 80, as lojas independentes de discos locais eram mágicas, lugares misteriosos em que gastava todo o meu tempo livre (e dinheiro), procurando o que poderia se tornar a trilha sonora da minha vida. Todo fim de semana eu mal podia esperar para pegar o meu suado dinheiro, cortando grama, e ter uma tarde cheia de descobertas. E a caçada era sempre tão boa quanto a captura! Eu passava horas folheando cada pilha, examinando o trabalho gráfico de cada capa, os títulos e créditos, procurando por músicas que pudessem me inspirar, ou me compreeender, ou simplesmente me ajudar a fugir. Esses lugares se tornaram meus templos, minhas bibliotecas, minhas escolas. Eles eram como um lar. E eu não sei onde eu estaria hoje sem eles.

Mais recentemente, eu tive sorte de redescobrir essa sensação de empolgação, o sentimento mágico de encontrar algo do nosso próprio jeito, vendo minhas crianças fazendo isso. Deixe-me te dizer: Nada me deixa mais orgulhoso do que ver minhas filhas colocarem para rodar o primeiro disco de Roky Erickson, que uma delas escolheu em uma loja de discos. Ou observar o grande respeito que elas têm ao segurar seus vinis dos Beatles. Como cuidadosamente elas colocam os discos em suas capas, tendo certeza que serão colocados de volta na sequência correta. Vendo-as perceber o quão fundamental e interligada cada parte dessa experiência é, eu revivo a mágica das minhas primeiras experiências com singles e álbuns em vinil, seu trabalho gráfico, encarte e etc.

Eu acredito que o poder que uma loja de discos tem de inspirar ainda vive e bem, que a sua importância para a nossa próxima geração de músicos é fundamental. Tire uma tarde (e um pouco da grana suada cortando grama) e por favor, os apoie.

Nunca se sabe, mas isso pode mudar a sua vida para sempre, também.

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Os Discos mais Vendidos de 2014

montagem-discos-maisvendidos2014 foi mais um ano interessante para o mercado do vinil. Os Estados Unidos e Inglaterra – os maiores mercados do segmento no mundo – registraram aumentos de vendas entre 40% e 50% em relação ao ano anterior. Eventos como a Record Store Day ganharam força e se tornaram fundamentais para o lançamento de edições especiais e limitadas. Artistas como Jack White e sua Third Man Records demonstraram que o mercado do vinil é criativo, e principalmente, corajoso. No Brasil vários artistas estão aderindo à mídia, e o Criolo, por exemplo, com “Convoque seu Buda” nos deixou extasiados com a procura dos fãs pelo disco.

Não dá para reclamar, claro. Mas como nada é feito apenas de bônus o crescimento do vinil também desencadeou alguns desafios novos. A escassez de vários álbuns clássicos, desde os primeiros Led Zeppelin, Pink Floyd, Beatles, discos do chamado post-punk como Joy Division, Siouxsie and the Banshees e Smiths, sem contar as bandas do começo dos anos 90, se tornou um problema para as lojas de discos usados, tornando o produto mais caro. Bons discos de música estão cada vez mais escassos. Fazendo as estatísticas do ano, percebemos que muitos artistas teriam tido mais saída se estivessem disponíveis com mais facilidade.

Outra parte do problema são os tocadores de vinil, desde as antigas radiolas até as novas, por vezes muito caras, que faltam no mercado ou não estão dentro dos nossos orçamentos. E por fim, segundo o jornalista John Harris, em uma excelente matéria no jornal inglês Guardian, um dos desafios das prensagens novas é um problema de velharia, ou seja, as poucas máquinas que prensam vinis no mundo ainda são as mesmas dos anos 70 e 80, falta manutenção e especialistas na área. Como os profissionais vão lidar com esses problemas? Como nós lojistas vamos lidar com esses desafios? Nós ainda não sabemos. O que podemos lhe afirmar é que amamos o que fazemos e adoramos o ruido do bolachão quando posicionamos a agulha no começo do disco. O resto é aprendizagem e que venha 2015.

Vamos aos números de 2014?

Os clássicos internacionais

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Mais uma vez não teve erro, o rock considerado clássico ganhou os primeiros lugares da lista de 2014. Nas primeiras posições Pink Floyd, Beatles e Led Zeppelin mostram que além da grande procura dos discos de época das bandas há uma grande importância nas estilosas reedições ou mesmo reinvenções das bandas como mostrou o Pink Floyd com o álbum novinho lançado no final do ano.

O Led Zeppelin marcou 2014 lançando as primeiras reedições de sua discografia, e os discos não deixaram nada a desejar, incluindo material extra e qualidade gráfica de deixar os olhos brilhando. Os álbuns Led Zeppelin I, II, III, IV e “Houses of the Holy” foram reeditados para todo tipo de bolso. Em 2014 o excelente Led Zeppelin IV foi o álbum mais vendido. Em 2015 tem mais reedição, afinal “Physical Graffiti” completa 40 anos!

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Já os Beatles, quase no fim do ano, fez sucesso com as reedições dos primeiros discos em prenssagens mono, algo que muitos fãs ansiavam, afinal nada como ouvir os discos de sua banda favorita exatamente da forma que eles foram pensados, com a tecnologia da época, não é mesmo?

O que dizer do camaleão David Bowie? Muitos fatores colocam o Starman no topo das listas de bem vendidos. Em menos de dois anos ele voltou com força para a cena musical depois de duas décadas bem mornas. Com clipes provocadores e bem dirigidos/produzidos ele mostra que sua carreira de quase 50 anos não foi construída à toa e nós brasileiros tivemos certeza disso vendo a exposição dedicada a ele no MIS – Museu da Imagem e do Som de SP. Com todo esse contexto favorável Bowie foi o quinto artista mais vendido em 2015. “Pin Ups”, “Space Oddity” e “Alladin Sane” são os discos mais comprados, sempre ótimo receber fãs do camaleão por aqui.

Exposição de David Bowie no MIS. Foto por Claudia Porto
Exposição de David Bowie no MIS. Foto por Claudia Porto

O arroz com feijão brasileiro

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Em se tratando de música brasileira o nosso arroz com feijão vai muito bem. O rock crítico e poético da Legião Urbana ainda se mantém firme e faz com que quase todos os discos da banda sejam disputados. “Que país é este” – o mais vendido – “Dois” e inclusive o duplo “Música para Acampamentos” são ainda a base para uma boa discografia do rock brasileiro.

A lista brasileira ainda segue com Chico Buarque, Caetano Veloso, Titãs e Elis Regina. Apesar dos três primeiros se manterem em carreiras sólidas até hoje são seus álbuns mais clássicos os responsáveis pela maior procura em vinil. Há ainda Secos e Molhados com o ótimo debut de 1973 que é o tipo de álbum procurado tanto por brasileiros como por estrangeiros, um verdadeiro álbum coringa.

A música brasileira é um ótimo exemplo do sumiço de discos no mercado, artistas como Tim Maia, Jorge Ben, Mutantes e Cartola estão se tornando difíceis de se encontrar, e quando aparecem o preço não é dos mais baratos. Estes artistas, se estivessem disponíveis com mais frequência, estariam figurando o topo da lista dos mais vendidos.

Os álbuns destaques do ano


Criolo – Convoque seu Buda

criolo_convoqueseubuda.redimensionadoÉ muito bacana ver um artista brasileiro liderando o ranking de álbuns em vinil mais vendidos do ano. O Criolo vem construindo uma carreira muito interessante no cenário brasileiro, misturando rap com o que há de mais criativo na música brasileira, fortalecendo isso com letras inteligentes, dinâmicas e que colocam o dedo na ferida. “Convoque seu Buda” teve lançamento nacional no começo de novembro e não deixou para ninguém, foi o best-seller do ano. A edição é caprichada e o disco merece ser ouvido com atenção, Criolo tem muito o que dizer!

Arcade Fire – Funeral

funeral.redimensionado“Funeral” é o álbum de estreia do Arcade Fire – que inclusive nessa época foi bem falado por David Bowie – em 2014 o álbum completou uma década e foi um dos discos mais vendidos. O álbum mostra muito do sentimento da banda e as primeiras ideias conceituais que viriam a aparecer com maior ênfase mais adiante. Dedicado às perdas que alguns integrantes tiveram na época, o álbum é um dos melhores do começo dos anos 2000 e viria a ser a base do rock praticado nessa década.

Jack White – Lazaretto

Jack_White_-_Lazaretto.redimensionadoFoi desde o The White Stripes que Jack White começou a construir uma das personalidades mais importantes da música. Hoje ele tem a Third Man Records e é uma das figuras influentes quando o assunto é vinil, como já falamos em “Jack White e o Futuro do Vinil” e “Jack White a Record Store Day“. “Lazaretto” é o segundo álbum solo de White e veio revolucionando, trazendo além de um álbum com um blues-rock firme, uma série de extras para deixar qualquer fã de vinil em polvorosa. Desde uma faixa que roda de trás para a frente, um holograma que só aparece quando o disco está tocando e faixas escondidas no selo de segurança, Jack White e “Lazaretto” são um marco na retomada do vinil.

E em 2015, apostas?

Rock Raro: Uma enciclopédia de bandas desconhecidas dos anos 60 e 70

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Há alguns anos o colecionador de discos Wagner Xavier resolveu encarar uma empreitada digna de um enciclopedista. Como um verdadeiro adepto do garimpo de discos, Xavier acreditou que era hora de compartilhar o seu amor por centenas de bandas que surgiram no fim dos anos 60 e meados dos 70, editando o primeiro volume de “Rock Raro: O Maravilhoso e desconhecido mundo do rock” trazendo um novo universo de bandas que surgiram ao mesmo tempo em que outras como Beatles, The Who e Rolling Stones ganhavam o mundo.

No primeiro volume, já esgotado desde 2010, Wagner Xavier focou nas bandas que por motivos variados não chegaram ao mainstream, mas que merecem serem ouvidas. Foram 352 bandas listadas, uma por página, contendo tracklist completo, informações básicas e caprichadas resenhas feitas pelo autor e o amigo, também pesquisador, João Carlos Roberto.

Com o sucesso do primeiro volume e o bom recebimento da crítica especializada, considerando o trabalho de Wagner uma exclusividade na América Latina, o autor lança agora o segundo volume de Rock Raro. Além de mais 343 bandas inéditas em relação ao primeiro volume, todos os discos listados contam com resenha, informações básicas das bandas e imagens. Neste volume Xavier dá uma atenção especial a grupos da América Latina, garantindo que o leitor tenha uma nova visão sobre o rock feito fora do eixo norte-americano-europeu. Rock Raro Volume 2 é uma prato cheio para qualquer fã de rock e vinil e como você vai perceber na entrevista abaixo com o autor, o livro foi feito por quem entende do assunto. Portanto, pegue seu bloco de notas e anote as dicas. E para quem ficou curioso, o livro será lançado em Curitiba no dia 28 de julho, confira o serviço abaixo e apareça! No mais escute a playlist montada com indicações do próprio Wagner, no final do post.

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ENTREVISTA COM WAGNER XAVIER

A primeira edição do Rock Raro saiu em 2010, quais foram as maiores motivações para você empreitar esse projeto? Como surgiu essa vontade de colecionar bandas raras, algumas com apenas um disco?
Na verdade o livro foi feito a partir de alguns sonhos meus. O primeiro era o de escrever o livro sobre musica, o segundo foi escrever um livro do qual eu, como colecionador, gostaria de comprar. Em viagens, procurei por um livro de discos raros dos décadas de 1960 e 1970, e já que não achei nestes moldes, resolvi eu mesmo escrever. Confesso que valeu muito a pena.
Sobre a coleção, sim, começou a partir da curiosidade que tive em conhecer grupos diferentes daqueles básicos que todos conheciam.

Hoje temos a internet que nos possibilita conhecer bandas de lugares pouco prováveis de aparecer na mídia, as redes sociais facilitam o famoso boca a boca. Como funcionava isso com essas bandas que você traz nos dois volumes? Como elas chegaram até você?
Sinceramente não uso muito a internet para isto. Minhas principais referências foram o livro Hard Rock Anthology de Denys Meyer, Enciclopédia do rock progressivo de Leonardo Nahoum e depois a revista Poeira Zine.

O trabalho de garimpo ainda continua nos dias atuais? Se sim, como é o processo hoje?

Hoje nem tanto, já tenho mapeado os discos que quero ter. Devagar e de acordo com o orçamento vou comprando. Atualmente queria mesmo era me dedicar em ouvir os discos que tenho, muitos deles ouvi apenas uma vez e muitos eu ainda nem me lembro do conteúdo. É uma grande pressão sabe que estão lá e não consigo ouvi-los como eu gostaria.

No primeiro volume você contou com a colaboração de um amigo, como foi esse processo? A parceria continua no segundo?

Sim, tudo igual, o João é meu amigo de infância, me apresentou muito do que conheço hoje e é um grande colecionador e conhecedor de musica em geral.

Qual seu feedback em pesquisar, compilar e editar dois livros como o Rock Raro no Brasil? Os leitores dão retorno? Qual processo você acredita dar mais trabalho?
O feedback é sensacional, extremamente gratificante. Durante estes anos recebi centenas de e-mails agradecendo e elogiando o livro, muitas ligações, fiz diversos amigos, entrevistas, entre outros. Outra coisa muito legal é saber a quantidade de pessoas que começaram a ouvir estes discos raros, que compraram discos em lojas de amigos meus e até mesmo contato com alguns músicos destas bandas citadas nos livros.

Pode dar uma pequena amostra para os leitores? Quais as 5 bandas que você considera verdadeiros diamantes encontrados!
Tem muita coisa que adoro e considero diamantes. Em cada livro separamos 20 discos diamantes. Neste volume 2 posso citar 5 álbuns de grupos como Jericho, Moseo Rosenbach, Almendra, Marcus e Locanda Delle Fate. Lembro que todos os discos citados no livro são álbuns que gostamos, jamais iria incluir e resenhar um disco para falar mal, não faria qualquer sentido.

Confira a playlist montada com sugestões do Wagner Xavier!

 

Serviço:

Lançamento do livro “Rock Raro: Vol.2”, autógrafos com Wagner Xavier e discotecagem com discos que estão no livro. Haverá degustação de chopp do bar Hop’n Roll, com preços promocionais + mini-feira de vinil.
Valor do livro para compra: R$95
Dia: 28 de julho
Horário: 19:30 às 22 horas.
Local: Green Center Residence Rua Treze de Maio, 439
Realização: Joaquim Livraria em parceria Hop’n Roll Beer Club e Grupo Thá

Maiores informações:
Joaquim Livraria – (041) 3078-5990

15 discos fundamentais para os Mutantes

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Influenciados basicamente pela verve que vinha do rock americano e inglês, Os Mutantes surgiram na segunda metade dos anos 60 e se tornaram uma das bandas mais importantes da cena brasileira, com o amplo contingente de fãs fora do país. Os álbuns nacionais despertaram a atenção dos estrangeiros e com álbuns exclusivamente lançados lá fora, o grupo se tornou um dos símbolos da música brasileira, misturando o rock psicodélico sessentista, o movimento tropicalista e sonoridades brasileiras, e letras que poderiam aparentemente soar nonsense mas que observadas com atenção tinham a mesma rebeldia implícita dos Rolling Stones, por exemplo.

A revista americana Wax Poetics, dedicada à música soul, jazz, funk, hip-hop, música latina e afins – o belo nome fazendo referência aos discos de vinil – chamou o guitarrista Sérgio Dias para listar 15 álbuns fundamentais para a sonoridade d’Os Mutantes. Na lista traduzida abaixo  você vai fazer um passeio por toda a década de 60 – alguma coisa no fim dos anos 50 – e entrar no universo daqueles adolescentes que dariam forma ao rock brasileiro em um cenário tão adverso como o da Ditadura.


1 The Ventures – Twist with the Ventures (1961)

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Eu comecei minhas aventuras na guitarra aprendendo essas passagens. Nocky Edwards foi o melhor professor, com o seu significativo trabalho na guitarra que é ainda, tecnicamente, muito difícil.

2 Russ Garcia – Fantastica (1959)

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Ele fez orquestrações para os primeros filmes sci-fi. Ele foi um dos primeiros caras, até onde sei, que usava instrumentos eletrônicos como osciladores e outros. Eu fiz minhas primeiras caminhadas “fora do espaço”, perambulando pelas gálaxias de música das esferas, ouvindo esse gênio e sua visão de “música da era espacial”.

3 The Beatles – Revolver (1966)

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Esse me toca no coração, e é matador! Todos dos Beatles – tudo.
Toda vez que um álbum dos Beatles era lançado, era como uma mudança na perspectiva de vida, então eu teria que falar de cada um deles. Em Rubber Soul era a introdução dos vocais como uma parte muito importante de como eles compunham e tocavam. Rubber Soul é fundamental. Revolver também. Se você ouvir “Tomorrow Never Knows”, você ainda não vai acreditar que alguém podia fazer algo como aquilo.

4 Celly Campello – Broto Certinho (década de 60)

Celly Campello - Brôto Certinho (1960)

Ela era a voz da juventude brasileira. Ela era rebelde; era a nossa Natalie Wood. Ela foi uma cantora do ínicio do ínicio do rock por aqui. Ela basicamente fazia os primeiros estágios do twist como o Neil Sedaka.

5 Nino Tempo e April Stevens – Nino and April sing the Great Songs (1964)

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Ótimos vocais! Nós amávamos a interação, e a banda de apoio era ótima! A forma como cantavam e a música eram excelentes.

6 The Everly Brothers – The Everly Brothers (1958)

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Arnaldo e eu costumávamos vê-los como espelhos, sendo irmãos e tal. Eles (nos ajudaram) solidificar nosso modo de cantar.


7 Peter, Paul e Mary – In the Wind (1963)

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A Rita entrou para nosso “Everly Brothers”, e começamos a criar harmonias mais complexas. (Arnaldo e eu) estávamos apaixonados pela Mary, claro.

8 Swingle Singers – Bach’s Greatest Hits (1963)

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Este realmente nos toca porque temos influência clássica desde o berço. Quando Johann Sebastian Bach entrou nos Mutantes – foi um prazer! Os caras costumavam cantar Bach, apenas com vocais, e isso nos influenciou muito, porque éramos muito ligados em música clássica. Minha mãe foi uma das primeiras mulheres a escrever um concerto para piano e orquestra, e uma das melhores compositoras e intérpretes que eu já vi tocando piano. Mais do que ninguém, ela foi quem mais nos influenciou. Nós a víamos voltar para o centro do palco para ser ovacionada umas 15 ou 16 vezes no teatro. Ela era ultrajante.

9 Nat King Cole – A Mis Amigos (1959)

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Suave e sexy! Que grande pianista ele era. Ele cantou em português nesta: “Quero chorar, não tenho lágrimas…”

10 Sly and the Family Stone – Stand! (1969)

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Eles realmente nos mandaram para a/pra quinta dimensão! Enlouquecemos com os beats e o baixo distorcido.

11 Demônios da Garoa – Trem das Onze (1965)

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Eles foram uma banda ultrajante de São Paulo. Eles cantavam muito bem, um tipo de estilo do interior. Eles eram o epítome do samba paulista. Tinham um humor precioso que eles carregavam em suas músicas, uma banda incrível com ótimas harmonias, e o modo caipira de cantar acompanhado com o sotaque da Mooca nos tornava orgulhosos de sermos os paulistas que somos!

12 The Rolling Stones – Their Satanic Majesties Request (1967)

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Eu costumava voar com o meu carro ouvindo esse muitas e muitas vezes. Este tornou os Stones transcendentes para mim com o vocal incrível e o trabalho de percussão.

13 Jimmy Smith – Bashin’ (1962)

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Ele foi a maior influência no modo de Arnaldo tocar o Hammond; ele continua sendo o melhor! Ninguém toca como ele. Ele é o Gato!


14 Les Paul e Mary Ford – Bye Bye Blues (1952)

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Meu querido professor, como eu suei para tocar o solo de “Bye, Bye Blues”.


15 Duane Eddy – Dance with the Guitar Man (1963)

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Claudio trouxe ele e aquilo nos deu consciência de que às vezes a sonoridade é tão importante quanto as notas!

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